Por Américo José da Silva Filho*
É sempre difícil admitir o desconhecimento sobre algum assunto, especialmente no ambiente de trabalho. Parece que todos precisam ter uma resposta pronta, seja ela qual for, para qualquer situação.
No mundo corporativo, a valorização dos “profissionais multitarefa” também ajuda a agravar esse desconforto. Hoje em dia, espera-se que todo mundo saiba fazer um pouco de tudo, consiga atuar em várias frentes, conclua todas as tarefas com qualidade e rapidez, mesmo sem receber o treinamento necessário.
Por tudo isso, está cada vez mais difícil escutar alguém responder uma pergunta com um sincero e honesto “eu não sei”. As pessoas ficam acuadas. Afinal, desde os tempos da escola, quem não entende alguma explicação vira alvo de gozações dos colegas.
É claro que, para ocupar determinado cargo em uma empresa, espera-se que o profissional domine o assunto com que irá trabalhar. Portanto, em alguns casos, é realmente constrangedor ter que reconhecer ignorância sobre determinado tema. Isso demonstra despreparo.
Mas não há outra alternativa. Quando se desconhece um assunto, o melhor a fazer é admitir que realmente não sabe. Enrolar, mentir ou até mesmo arriscar uma resposta inventada é sempre perigoso e até desleal, porque pode levar outras pessoas a cometerem erros baseados na informação que você transmitiu. E não há nada pior do que um profissional que gera desconfiança.
Além disso, quando dou uma resposta qualquer, estou me enganando e restringindo a possibilidade de apreender. Mas ao dizer que não sei ou não tenho certeza sobre algo, eu abro o caminho para o conhecimento e demonstro sinceridade.
Ao dar uma resposta honesta, posso ganhar a confiança do interlocutor e permitir que ele explique o que sabe – e a maioria das pessoas adora ter a chance de demonstrar seu conhecimento.
Quantas vezes você participou de uma reunião em que ninguém estava entendendo nada, mas não teve coragem de levar a mão e tirar sua dúvida? Quantas respostas evasivas você já deu para driblar quem te fez uma pergunta? Será que não teria sido mais produtivo, para você e para empresa, se você reconhecesse seu desconhecimento?
*Américo José da Silva Filho é sócio-diretor da Cherto Atco e colunista do jornal Folha de S. Paulo