Pai e filha mantêm tradição da família Neugebauer, dona da primeira fábrica de chocolate do Brasil, com novos negócios

Ernesto e Carolina Neugebauer, 65 e 27 anos, são pai e filha e estão à frente de duas empresas do mesmo grupo: a Danke e a Noir Chocolates, respectivamente. A trajetória dos dois é um reflexo do histórico centenário que a família tem com a fabricação e a comercialização de produtos de chocolate no país. Eles são descendentes do clã responsável por dar o pontapé na fabricação de chocolates no Brasil.

A história começou em 1891, quando os três irmãos e imigrantes alemães Franz, Ernesto e Max Neugebauer decidiram empreender com chocolates no Rio Grande do Sul e fundaram a Neugebauer, a primeira fábrica do tipo no país, atuante até hoje e responsável por marcas como Stickadinho. Por cerca de 90 anos, a marca foi propriedade da família, até ser vendida em 1982. Segundo Ernesto, foi aí que a sua carreira como empreendedor começou.

Naquele mesmo ano, ele e o irmão Werner fundaram a Harald e acolheram o pai, também Ernesto, no negócio. "Nós vendemos a Harald apenas em 2015 e eu continuei sócio até 2018", explica Ernesto. "Comecei a construir o conceito da Danke em 2019."

Ele conta que fundar a nova empresa veio da vontade de retomar as tradições iniciais da família, de vender chocolate para o consumidor final, já que a Harald é focada em chocolates para confeitaria. "A gente não queria um chocolate massivo, mas sim uma fábrica com um mestre chocolateiro, como se fazia antigamente. E também queremos mostrar que é possível fazer um chocolate de alta qualidade aqui no Brasil sem pagar tão caro", afirma.

A preocupação com a fabricação do chocolate e a origem do cacau também está no cerne da Noir, liderada por Carolina Neugebauer. As duas marcas trabalham com os mesmos produtores, que ficam principalmente na região de Medicilândia, no Pará, com um trabalho voltado à agricultura familiar. Segundo os empreendedores, o objetivo é construir uma relação com esses profissionais por meio de fidelidade comercial e remuneração acima da média.

Carolina, CEO da Noir, conta que as empresas são independentes, mas ainda assim existe uma parceria, pela proximidade dos dois. "A gente brinca que o chocolate é sobre relações. E eu e o meu pai temos uma relação muito boa. Por isso, ele me ajuda a desenvolver alguns produtos e eu também ajudo ele", comenta.

Ela diz que soube que queria trabalhar com chocolates em 2011. "Ele estava desenvolvendo uma nova linha de produtos e meu pai me deu cinco opções para experimentar. Quando comprei na loja, vi que ele seguiu com a combinação que eu tinha escolhido", vangloria-se.

Em 2018, a Cacau Noir, que na época era cliente da Harald. "Eu me encantei e acabei entrando para o negócio", conta. Em 2021, as fundadoras saíram e ela assumiu a direção, transformando a marca em Noir Chocolates depois de um rebranding anunciado em junho deste ano. "A Cacau Noir tinha todas as embalagens pretas, remetia muito ao luxo. Só que chocolate é mais do que isso, tem muitas emoções no meio", diz. "E a gente não estava conseguindo comunicar a nossa história, desde a minha família até o trabalho que fazemos com os produtores no Pará."

Tanto Ernesto como Carolina se dizem muito orgulhosos da trajetória da família no mercado de chocolates. "Nós nunca trabalhamos com outra atividade, sempre estivemos ligados à produção de cacau", conta o fundador da Danke.

Carolina brinca com a presença do nome Ernesto na família. "Eu sou a quinta geração de chocolateiros da Neugebauer no Brasil, mas não sou Ernesto", diz. "Quem trouxe o chocolate para o Brasil foi o Ernesto Neugebauer. Ele passou para o filho, meu tio-avô, João Ernesto Neugebauer, que passou para o Ernesto Harald, fundador da Harald. Este Ernesto, por sua vez, passou para o Ernesto que é meu pai. E ele passou para mim".

O fundador da Danke e quarta geração de Neugebauer no Brasil se emociona ao falar da presença da filha nas indústrias do chocolate. "Se Deus me deu um presente, foi quando a Carolina, com 14 anos, tatuou uma barra de chocolate no braço e eu percebi que a família iria continuar seguindo essa tradição de trabalhar com chocolate no Brasil", relembra.

 

Fonte: Pequenas Empresas, Grandes Negócios